As discussões do segundo dia do 6º Encontro Nacional da MetaRed TIC Brasil foram abertas nesta sexta, 1º de novembro, com uma palestra sobre inclusão, conectividade e letramento digital, com o presidente da Univesp, Marcos Augusto Francisco Borges, e o presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), João Mattar.
Com mais de 80 mil alunos, sendo a maior universidade pública de graduação do país, a Univesp já formou mais de 16 mil alunos ao longo de seus 12 anos de vida. Para falar sobre diversidade e inclusão na IES, Marcos Augusto contou um pouco sobre a história da IES e sua estrutura. Ele destacou, por exemplo, que os cursos de licenciatura são os com maior concorrência, perguntando se a falta de interesse dos estudantes por determinados cursos não é decorrente do formato destes programas.
Ele apresentou ainda alguns dados sobre o perfil dos estudantes da IES, destacando questões como a quantidade de alunos com algum tipo de deficiência e neurodivergência ou aqueles que são o primeiro da família a ingressar em uma universidade. Marcos Augusto destacou também a força do canal do YouTube da IES, com todas as aulas com legenda e audiodescrição, por exemplo. “Essa acessibilidade deixa nossos alunos mais confortáveis para acompanhar as aulas e concluir o curso”, disse ele apontando a abrangência de inclusão da IES em termos geográficos, flexibilidade de horário, etária e econômica. Segundo ele, as IES precisam estar atentas a todos os tipos de inclusão. “Incluir é uma tarefa contínua”, finalizou.
Palestra sobre cidadania na era digital abre 6º Encontro MetaRed TIC Brasil
Em seguida, João Mattar, pesquisador e presidente da ABED, apresentou um pouco do projeto Desenvolvimento de Competências Digitais em Educação, cujos objetivos vão desde a revisão da literatura sobre o tema à análise da experiência de gestores, educadores, estudantes e outros profissionais em relação ao uso de tecnologias digitais da informação e comunicação. Em sua fala, o pesquisador destacou, por exemplo, a falta de instrumentos de avaliação de competências digitais para os próprios estudantes e o trabalho do projeto em desenvolver esse questionário para tentar relacionar, por exemplo, o nível de competência com evasão e comparar o nível dessas habilidades no início e no final do curso.
Inclusão feminina
Quais os números da presença feminina no ensino superior? E apesar da maioria dos estudantes de graduação serem do sexo feminino, qual a efetiva participação delas no mercado de trabalho de tecnologia, que está em expansão no momento? Essas foram algumas questões discutidas também no encontro da MetaRed.
Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, apresentou alguns números do ensino superior para contextualizar a presença das mulheres no ensino superior e na área TIC. “Os dados são positivos, por um lado, mas tem números preocupantes que precisamos evoluir e melhorar. Uma ótima notícia, por exemplo, é o crescimento de 61,5% da participação das mulheres em relação ao total de matrículas, por exemplo, no período dos últimos 13 anos, de 2010 a 2023”, citou. “A participação majoritária das estudantes do sexo feminino atualmente é de 59,2%, com o aumento dessa participação na modalidade presencial e queda no EAD”. Em relação a cursos de TI, Capelato apontou que, nos últimos 10 anos, a participação feminina aumentou em todos da área, mas ainda se mantém muito baixa, menos de 20%.
Em seguida, Cristina Ares Elisei, coordenadora do GT Mulheres na TIC, antes de iniciar as discussões do painel “A hora agora é delas: como o mercado está aberto para mulheres na tecnologia?”, começou apontando que existe sim um lugar de fala para as mulheres em todas as áreas, inclusive cursos majoritariamente frequentados por homens. “Nosso GT tem apenas dois anos e tem como motivação o aumento da participação feminina em cargos de gestão e no setor de tecnologia, focado na educação superior”, explicou antes de apresentar alguns dos projetos encampados pelo grupo, como um podcast, um curso de liderança, um diretório de mulheres na área TIC e um estudo focado na América Latina para saber onde estão essas mulheres, entre outros.
Lubienska Jaquiê Ribeiro, diretora Acadêmica da Univesp, iniciou o painel afirmando que não nasceu engenheira. “Estamos na universidade e em cargos de gestão, mas ainda somos poucas e não somos vistas, infelizmente. Não é qualquer empresa que tem a coragem de contratar uma mulher para um cargo de gestão porque temos que nos provar o tempo todo”, lamentou. “Nós não nascemos líderes, nós nos tornamos líderes, inclusive os homens. Mas para as mulheres isso é mais difícil”, disse antes de falar mais sobre seu trabalho na Univesp e de como a IES é inclusiva na questão feminina com pautas como mães solos, por exemplo.
Cida Zem, da Fatec Jahu, compartilhou sua experiência como mulher “da área dura”, formada em Ciências da Computação. “Sempre tive mulheres que me inspiraram, inclusive na academia”, afirmou ela lembrando que toda as mulheres têm uma história e uma superação. “Atualmente, tenho estudado as alunas da Fatec e suas competências STHEM”, prosseguiu apontando que a IES tem mais alunos homens, mas que não precisa ser assim.
Governança e Inteligência Artificial
No período da tarde, Ernesto Chinkes, da Metared Global, e Fábio Cespi, diretor do Lyceum, falaram no painel Governança de TI, InteligêncIA e Inclusão Digital. Cespi apresentou um panorama da educação superior no Brasil, especialmente do setor privado como negócio que precisa ser capitalizado, além de apontar tendências tecnológicas, entre elas a Inteligência Artificial, grande coqueluche do momento. Ele começou mostrando alguns resultados de uma pesquisa do BTG Pactual que traz dados sobre a receita e rentabilidade das IES de capital aberta, que apontam que a receita está estagnada e as instituição não conseguem repassar preços para os alunos.
“A pesquisa indica também que as IES estão investindo cada vez mais em automação para que trabalhos manuais sejam substituídos por tecnologia, com o setor sendo ameaçado, por exemplo, por mudanças comportamentais, com os estudantes deixando de ingressar no ensino superior para apostar em BETs e apostas virtuais”, lamentou listando outros desafios como a regulação, concorrência, questões comportamentais, tecnológicas, gestão humana e pedagogia. Cespi listou ainda tecnologias que precisam ser adotadas e estarem no radar das IES: analytics, OCR, RPA, Inteligência Artificial, aprendizagem de máquinas, ChatBOT´s, BPM, Low Code, Compliance, gestão de documentos, meios de pagamentos e certificação digital.
Ernesto Chinkes, da Metared Global, listou três etapas da evolução do mundo digital, com a digitalização e aumento da eficiência, da melhoria do serviços e da personalização de maneira massiva e, a atual, dos assistentes inteligentes, como a IA generativa. Segundo ele, infelizmente, a maioria das IES ainda está na primeira etapa dessa evolução. Em seguida, ele citou tendências das universidades na era digital, como a personalização e experiência dos alunos, a questão da internacionalização e aumento das alianças. “O papel das IES é ser um intermediário entre as pessoas e o conhecimento. Mas o aumento da tecnologia tem modificado essa função porque as pessoas estão cada vez mais independentes na busca desse conhecimento”, declarou. “Qual é então o papel das IES agora? As IES precisam gerar algum valor para seus estudantes e ajudar na ligação entre o mundo físico e o digital, usando o digital para eliminar restrições”.
Expansão do EAD
O papel do TI na expansão do EAD, na inclusão digital e na melhoria da qualidade trouxe mais debates para o 6º Encontro Nacional da MetaRed TIC Brasil, com falas de Romero Tori, membro do Conselho da Bett Educar; Rafael Alonso, gerente de Produto da Plataforma A; e Jackson Fernandes, gerente Executivo de Tecnologia e Inovação da Plataforma A. Tori lamentou a necessidade de, ainda hoje, termos que separar as modalidades presencial e EAD. “A tecnologia, por exemplo, já permite a presencialidade sem que estejamos no mesmo espaço físico”, disse, em seguida, apresentando algumas características do que é o EAD.
“Temos que evoluir e entender o que é presencialidade e de onde surgiu o preconceito em relação à educação a distância”, acrescentou. Segundo ele, mídias assíncronas como correspondência, rádio, TV, e a falta de presencialidade contribuíram para esse preconceito, mas o ensino a distância não é mais só isso. “Uma aula interativa online permite a presencialidade. O que reduz a distância não é a mídia, e sim a metodologia”, encerrou. Rafael Alonso e Jackson Fernandes, da Plataforma A, falaram sobre o tema a partir do ponto de vista de uma edtech que fornece tecnologia para as instituições de ensino.
Futuro da Educação
Encerrando as discussões do dia, Ricardo Cavallini, criador do RUTE, um kit educacional eletrônico aberto, ecológico e acessível, falou sobre quais os próximos passos para a educação. “Trabalho com empresas em geral para fazê-las entender que futuro é esse que está chegando cada vez mais rápido e os impactos que a tecnologia está causando na sociedade e ambiente de negócios”, explicou. “Também trabalho preparando a próxima geração para esse mundo em transformação”, acrescentou.
“Essa sensação de que as coisas estão acontecendo de forma cada vez mais rápida não é nova. O que tem mudado é que, atualmente, sentimos isso em vida”, destacou ele. “Hoje, vivemos em um mundo que antes só existia em ficção científica, o que torna a visão de longo prazo tão complexa porque tudo muda o tempo todo”, alertou sobre uma falta de controle sobre a velocidade das mudanças e das novidades. “Não duvidem do futuro”, decretou.
E onde entra a educação nesse cenário? Para Cavallini, a educação entra para preparar as novas gerações a se adaptarem às ondas de transformação cada vez mais rápidas. “A questão deixa de ser quais as profissões do futuro”, apontou. “Faz mais sentido entendermos quais as habilidades do futuro porque tudo o que fazemos atualmente é medíocre já que softwares conseguem fazer isso de forma melhor e mais rápida”.
Em relação à Inteligência Artificial, Cavallini decretou a morte do aprendizado. “Na medida em que tudo nos é entregue pronto, nós nem olhamos mais para elas. Não adianta brigar com algumas mudanças, mas precisamos saber como vamos usá-la incentivando o aprendizado. Temos uma grande responsabilidade em preparar essas novas gerações”, finalizou.
Grupos de Trabalho
Ao longo do dia, os coordenadores dos GTs da MetaRed TIC Brasil apresentaram os projetos que estão em sua pauta atualmente. Marcelo Augusto Gonçalves Bardi falou sobre o GT de Maturidade Digital e Gestão de TI; Cristina Ares Elisei, do GT Mulheres; Domingos Sávio Alcântara Machado, do GT de Segurança de Informação; Gilberto Ferreira, do GT de Relação com os Fornecedores; e Marco Antonio Garcia de Carvalho, do GT de Tecnologias Educacionais.
Fonte: SEMESP
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