Pesquisadora fala sobre o livro Ficções (1944) e as principais influências do escritor argentino

03/11/13


“A obra de [Jorge Luis] Borges (1899-1986) é chave para se pensar a literatura do século XX. Ela permeia todo o período e apresenta repercussões e ecos até hoje”, analisa Ana Cecília Arias Olmos, professora de literatura hispano-americana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), em entrevista ao programa Literatura Fundamental, da UNIVESP TV.

De acordo com a pesquisadora, uma das ideias fundamentais da ficção de Borges é sustentar que, por trás da escrita, está sempre a leitura. “O ponto chave da obra de Borges é que o livro é um mundo e que o mundo é um livro, desestabilizando a ideia de realidade”, aponta. Uma das estratégias narrativas de Borges, segundo Olmos, é apagar os limites entre o que é verdadeiro e o que é imaginário, de forma que o leitor nunca saiba o que é invenção e o que faz referência a algo real.

A pesquisadora analisa a obra Ficções (1944), uma coletânea de contos considerada uma das obras-primas da literatura do século XX, construída a partir de uma narrativa que utiliza transgressões e reinvenções. “Esse aspecto foi muito produtivo para a literatura e importante para a filosofia, pois embasa os pensamentos filosóficos de franceses como [Michel] Foucault, [Maurice] Blanchot e [Gilles] Deleuze, que se utilizam da produção de Borges”, afirmou.

Segundo Olmos, o título da obra indica que o seu conteúdo não é uma reprodução fiel do mundo. O prazer da leitura, portanto, viria da forma estética, ou seja, da maneira como o relato é feito. “A ficção não é sinônimo de mentira. É um relato autêntico, mas que não nos propõe uma verdade que possa ser comprovada fora da obra; e sim uma verdade que somente funciona dentro da lógica do texto”, argumenta.

Borges lançou seu primeiro livro, de poesia, aos 22 anos. Na entrevista, a pesquisadora relatou ainda aspectos biográficos do autor e as consequências para sua obra, como o fato de Borges não ter frequentado a escola e ter sido alfabetizado em dois idiomas (inglês e espanhol), com influências de duas tradições literárias. A trajetória do autor também conta com a atuação em revistas de vanguarda e as formas em lidar com a cegueira, que herdou do pai.

Veja a entrevista na íntegra:

Literatura Fundamental
O objetivo do programa é discutir os principais livros da literatura mundial em entrevistas com pesquisadores de destaque que contribuam para ampliar o conhecimento dos telespectadores. Outros vídeos do programa estão disponíveis aqui.